Está por fazer o estudo das formas de estruturação do mercado de trabalho no período anterior ao desenvolvimento da produção industrial, caracterizado por alterações significativas nos diferentes factores de produção, traduzindo-se, no que diz respeito ao trabalho, pelo predomínio da relação contratual assalariada, pela separação entre domicílio e local de trabalho, ou por uma maior concentração de trabalhadores. A observação continuada dos agregados domésticos e dos diferentes grupos sociais numa freguesia próxima de Lisboa (Oeiras), ao longo de várias décadas, permitiu o estabelecimento das características da força de trabalho empregue na produção de bens ou na prestação de serviços, desde o início da segunda metade do século xviii até aos anos iniciais do século xix. O facto de se tratar de uma zona fortemente relacionada com a capital, sofrendo os impactes de uma grande metrópole no que diz respeito ao mercado fundiário, de produtos e a o próprio mercado d e trabalho, sujeita a um fluxo constante de rendimentos, derivados, na sua grande maioria, do sector agrícola, não torna os resultados desta análise uma imagem exemplar das modalidades de que se revestia a mão-de-obra empregue na produção agrícola ou de manufacturas que pudesse aplicar-se globalmente à escala nacional. Contudo, os próprios elementos de excepção característicos das relações campo-cidade que se estabelecem entre uma metrópole como Lisboa e o seu hinterland rural podem resultar na exacerbação de comportamentos, permitindo o entendimento de processos pouco discerníveis noutras condições.
Não oferece dúvidas a importância que adquire um conhecimento aprofundado dos diferentes sectores que participavam na produção de bens ou das razões que estavam associadas ao facto de serem socialmente preferidas determinadas modalidades de trabalho em detrimento de outras. Quais as características de cada um dos sectores da força de trabalho e as suas formas de reprodução? Que factores —de índole económica, demográfica ou cultural — determinavam a existência de diferentes opções na utilização da mão-de-obra? Que influência advém da especificidade da sua reprodução para a qualidade e conteúdo das relações sociais e familiares, para o ritmo e formas de desenvolvimento do ciclo de vida doméstico ou para a formação de novas unidades familiares? Eis um conjunto sumário de questões que deverão estar na mira de qualquer estudo que se debruce sobre as características histórica e espacialmente mutáveis da força de trabalho.
DOCUMENTOS DE SUPORTE
FONTE
Análise Social, vol XXIII (97), 1987-3º, 531-562
CRÉDITOS
Álvaro Ferreira da Silva