Idade Moderna
1453 | Gomes Eanes de Zurara escreve "A Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné"
Em 1453, o cronista real Eanes Gomes de Zurara entregou em 1453, ao então rei Afonso V o manuscrito A Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné (ou, de acordo com a edição, Crónica dos Feitos da Guiné), um documento essencial já que testemunha, de forma coeva, a solidificação da empresa colonial portuguesa no continente africano, bem como o início da escravatura transatlântica.
1454 | Bula “Romanus Pontifex”
A “Romanus Pontifex” foi emitida pelo Papa Nicolau V, em 1454 e concedia à coroa portuguesa o direito de exploração da costa africana e do Atlântico, ou seja a exclusividade de navegar, comercializar e tomar possa das regiões a sul do Cabo Bojador.
1459 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM BEJA
Referências
FONSECA, J.(2020). “De Escravos a Negros livres no Sul de Portugal“. In M. D. Barros E A.P. Gato (eds.), Desigualdades – Estudos & Colóquios 21, online.
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1461 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM SANTARÉM
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1466 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ÉVORA
FONSECA, J. (1997). Escravos em Évora no século XVI. Évora: Câmara Municipal de Évora.
FONSECA, J. (1996-97). “Fugas de escravos na região de Évora (Século XVII)”, A Cidade de Évora, 2ª série, nº. 2, pp. 211-228.
MAURÍCIO. D. (1977). “A Universidade de Évora e a Escravatura“, Didaskalia VII: 153-200.
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1466 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM BRAGA
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1466 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ARRIFANA (AVEIRO)
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1468 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ALMADA
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1469 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ÓBIDOS
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1475 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS NO PORTO
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
VALENÇA, M. (2003). Escravatura na região do Porto (1591-1795). Braga: Editorial Franciscana.
1475 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ELVAS
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1475 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM SETÚBAL
Referências
GORJÃO HENRIQUES, J. (2020). Detectives procuram presença de população negra em Setúbal, Público, 7 de março, https://www.publico.pt/2020/03/07/local/reportagem/detectives-procuram-presenca-populacao-negra-setubal-1906738
ROLDÃO, C. (2019). Visita à Setúbal Negra (séc. XV-XVIII): Desocultar a história local através da educação não-formal”. Medi@ções – Revista Online da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal 72: 66-85. http://mediacoes.ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/article/view/241/pdf.
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1480 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM ÉVORAMONTE
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1489 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM VALE DE ZEBRO
Referências
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1492 | EXPULSÃO DOS MUÇULMANOS DE GRANADA E CHEGADA DE CRISTÓVÃO COLOMBO À ÁMERIA | A INVENÇÃO DO OCIDENTE
1492 é assinalado como o ano da queda de Granada de Muhammad XII pelos reis católicos, o ano em que Cristóvão Colombo chega à América do Norte, bem como o ano em que é assinado o Tratado de Alhambra que decreta a expulsão de todos os Judeus do Reino de Espanha (que entram em Portugal em grande número).
Segundo o antropólogo Michel-Rolph Trouillot (1995), o Ocidente foi criado no decorrer do século XVI, na sequência de um conjunto de transformações materiais e simbólicas: i) a expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica; ii) a inauguração das viagens imperiais e do comércio colonial com a chegada de Cristóvão Colombo à América do Norte; iii) a maturação das monarquias absolutistas. Por sua vez, a europa – espelho e sinónimo de Ocidente – consolida-se pela criação de um passado greco-romano, da ocidentalização do cristianismo e do traçar de uma linha imaginária do sul de Cádis ao norte de Constantinopla – um espaço, metageográfico que delimita uma arena histórica, ideológica e política (Trouillot, 1995; Asad, 2005). Este é também o contexto que a Europa se coloca na posição de colonizadora e é inaugurada a crença de que a civilização europeia – agora, o Ocidente – possui uma “vantagem histórica” concedida por uma “qualidade” racial, cultural, ambiental, mental ou espiritual que lhe confere uma superioridade permanente face a outras comunidades humanas (Blaut, 1993). De facto, o processo de colonização e a inauguração do capitalismo enquanto novo poder global e modelo de dominação sustentou-se na classificação de pessoas a partir de critérios raciais, que edificaram e naturalizaram as diferenças entre colonizador/colonizado, construindo (novas) estruturas (e controlo) de trabalho, acesso a recursos e de produção de conhecimento (racial/eurocêntrico) (Quijano, 2000).
James Sweet, no seu artigo, “Collective Degragation: Slavery and the construction of Race”, refere o modo como a partilha europeia de uma conceção racial e cultural sobre o “outro” devolveu a conceção de um “nós” europeu, ancorada em três pilares essenciais, pós-1492: i) apesar da concorrência entre católicos e protestantes, todos eram cristãos; ii) não obstante as lutas pela soberania/sucessão fossem constantes, todos os espaços eram monarquias centralizadas; iii) conquanto instrumentalizado de formas diferentes, estava presente na europa um humanismo filosófico que parecia ter em comum um discurso relacionado com a consagração dos direitos individuais; e, de facto, é a criação de uma ideia de unidades distintas que sustenta que indivíduos são passíveis de serem escravizados (2003:4).
Se, no período pré-escravatura transatlântica o processo estava circunscrito ao espaço europeu, à escravização de pessoas Roma/ciganas, eslavas, judias e muçulmanas, baseando-se no argumento da “infidelidade religiosa”, segundo a qual poderiam ser escravizados todos os “infiéis”; com o início do tráfico transatlântico, os termos do debate alteram-se: embora se considerasse que os africanos eram “gentis” e possuíam capacidades de conversão ao cristianismo, apresentando um potencial de integração nos estados-nação emergentes, insistia-se também que devido a serem “bárbaros”, as suas capacidades de conversão eram incertas (salvo raras exceções) e que eram passíveis de ser escravizados (Idem). As bulas papais de 1452 e 1454 vêm então conferir o direito do Rei Afonso V de Portugal de escravizar todos os infiéis na África Ocidental e proclamar o direito dos europeus a conquistar e escravizar todas as populações a sul do Cabo Bojador, sob o pretexto de uma missão civilizadora (Idem:6).
As proposições racistas que justificaram a escravatura eram visíveis através da linguagem, nomeadamente no português, uma vez que os “escravos africanos” eram distinguidos dos “mouros” pelo termo “negro”, enquanto o termo “mouro negro” implicaria uma dupla “outrificação” baseada na interseção entre critérios raciais e religiosos. Na segunda metade do século XV, na Península Ibérica, o termo “negro” era equivalente a “escravo”, embora posteriormente a escravatura se tivesse alargado também às populações indígenas (Ibidem). Denote-se que esta conceção de raça operacionalizada no século XV em alguns países mediterrâneos como Portugal ou Espanha, “rapidamente viria a marcar a Europa, bem como as sociedades coloniais e imperiais, especialmente aquando da construção da soberania do estado” (Goldberg, 2009:3).
Referências
1493 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM TAVIRA
1496 | Édito de expulsão de judeus e mouros do reino, por D. Manuel I
Édito de expulsão de judeus e mouros do reino, por D. Manuel I. Em Lisboa, a mouraria com cerca de 5 ha, não deve ter ultrapassado as 500 almas no século XV. O número de mouros ao longo do século foi diminuindo: uns afetados por doença e peste, outros emigraram para o norte de África e para Granada, ou ainda por miscigenação, ao integrarem a sociedade cristã.
Ao contrário das comunidades mouras, as judaicas aumentaram, quer em número quer em poder económico. Maria José Ferro Tavares calculou a população hebraica em cerca de 30 000 habitantes. O índice de miscigenação era muito baixo – a rejeição partia da própria comunidade judaica e das penas para quem ousasse manter relações entre elementos das comunidades cristã e judaica. Em Lisboa, existiram três judiarias e um núcleo habitacional (extinto em 1317, na Pedreira): Judiaria Velha ou Grande, Judiaria Nova ou das Tercenas e Judiaria de Alfama.
1500 | Instalação de pessoas escravizadas em Alter do Chão
Referência
SAUNDERS, A.C. (1994). História social dos escravos e libertos negros em Portugal (1441-1555). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
1507 | Instalação de pessoas escravizadas em Almeirim
1500 a 1475 | Centenas ou mesmo milhares de famílias migram para a Madeira ou Açores
Centenas ou mesmo milhares de famílias migram para a Madeira ou Açores, e nos anos seguintes migram também para outras paragens além-mar deixando registos da presença de portugueses negros por todas esses locais. Estados Unidos, Hawai entre outros.
1512 | Lisboa torna-se oficialmente o único porto de desembarque de pessoas escravizadas
1514 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM MIRANDA DO DOURO
1519 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM VILA NOVA DE PORTIMÃO
1520 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM SERPA
1520 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS NO ALVITO
1523 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM CASTELO DE VIDE
1526 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM COIMBRA
1528 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS EM MUGE
1529 | INÍCIO DOS REGISTOS PAROQUIAIS DE NASCIMENTO, CASAMENTO E ÓBITO
1536 a 1821 | Práticas culturais africanas foram neste período bastante perseguidas
Práticas culturais africanas foram neste período bastante perseguidas e demonizadas, com lugar a queima de pessoas nos principais locais de julgamento das vilas.
ANTERIOR A 1573 | INSTALAÇÃO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS MA REGIÃO DO SADO
Referências
ALMEIDA, M.C. (1956). Mulatos no Concelho de Alcácer do Sal. Subsídios para a definição étnica das gentes do Vale do Sado. Lisboa: Ramos, Afonso e Moita Limitada.
BBC (2023). Descobertas arqueológicas obrigam Portugal a rever mito sobre escravidão, BBC, 27 de Setembro.
CARMO, M., SOUSA, J., VARELA, P., VENTURA, R. e BIVAR, M. (2020). “African knowledge transfer in Early Modern Portugal: Enslaved people and rice cultivation in Tagus and Sado rivers”, Diacronie. Studi di Storia Contemporanea 44 (4), pp. 44-66.
CARVALHO, A.R. (2009). Torrão do Alentejo: Arqueologia, História e Património (Volume 3) – Cronologia e Bibliografia. Alcácer do Sal: Junta de Freguesia do Torrão e Câmara Municipal de Alcácer do Sal.
CASTRO HENRIQUES, I. e SILVA, J.M. (2020). Os “Pretos do Sado”: História e memória de uma comunidade alentejana de origem Africana (Séculos XV-XX). Lisboa: Edições Colibri.
CHAÍNHO, A.G. (2019). A escrava Domingas. Grândola: Batoto Yetu Portugal.
GIACOMETTI, M., LIMA, P. (2010). Ladrão do Sado – Inquérito Musical em Alcácer do Sal, Tradisom.
GOMES, M.R.R. (2008). “A ‘Ilha dos Pretos’: análise da fecundidade e ilegitimidade na freguesia de São Romão do Sadão entre 1679-1729″, Archport, Universidade de Coimbra.
MANGO, V. (2013). “Negros de Alcácer ou Mulatos da Ribeira do Sado”, Comporta-Opina, Cultura e Lazer, Alcácer do Sal.
MENDES, V. (s.d.). “Negros do Sado”, texto policopiado, Rio de Moínhos.
NETO, M.C. (2004). “O compromisso da confraria de Nossa Senhora do Rosário de Palma (Alcácer do Sal)”, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Série 122ª., nº. 1-12, pp. 89-93.
NETO, M.C. (2002). “Nótula sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Freguesia de São Romão”, Memória Alentejana 5.
NETO, M.C. (2001). “A Escravatura em São Romão do Sado” in Memórias do Instituto de Malariologia de Águas de Moura – da luta anti-palúdica ao museu. Palmela: Câmara Municipal de Palmela e CEVDI- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
NETO, M.C. (1996). “Proprietários de escravos em São Romão do Sado, 1666-1765”, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Série 114, nºs. 1-12. Lisboa: Sociedade de Geografia, pp. 159-163..
NETO, M.C. (1984). “A população escrava entre 1603 e 1632 na freguesia de Santa Maria do Castelo (Alcácer do Sal) através dos livros de baptismo”, Actas do 4º Congresso do Algarve, Montechoro, pp.213-219.
RAU, V. (1984). Estudos sobre a história do sal português. Lisboa, Editorial Presença.
VASCONCELOS, J. L. (1898). “Mulatos de Alcácer do Sal”, O Archeologo Portuguez, Tomo 1, Março.
1600
1701 a 1800 - Relatos de estrangeiros descrevem os vários grupos sociais
Nos relatos de estrangeiros que visitaram Portugal descrevem-se os vários grupos sociais de modo genérico. Os de origens africanas chamavam a atenção. Circulavam nas ruas carregando até ao rio os dejetos e sujidades produzidas nas habitações, sem sanitários, ou realizando outras tarefas desprestigiantes. Resultado da miscigenação entre as camadas populares brancas e negros vindos de África ou do Brasil, pessoas mestiças também se destacam. Pessoas escravizadas ou forros partilhavam o dia-a-dia da população branca. Também os negros eram acusados de curandeirismo ou feitiçaria pela Inquisição ou cumpriam penas nas galés por
ordem dos tribunais civis.
1755, 1 de novembro | Grande Terramoto
Lisboa tinha uma população de cerca de 250 000 habitantes. A população mourisca de Lisboa migra para a zona Oeste de Portugal, denominando-se região saloia e levando o seu conhecimento e experiência no negócio e na produção de animais e do trabalho na agricultura. As suas vestes mantiveram traços distintos que incluíam frequentemente o colete e o barrete. Aos mouros dos arredores de Lisboa dava-se antigamente o nome de Caloyos ou Saloios, nome tirado do nome da reza feita cinco vezes por dia, que se chamava “cala”.
1790 | Culto ao "Santo Preto"

VIEIRA, A.B. (2023). Preto sobrevive a memória de um Na Campa do“santo” escravo que a ditadura quis apagar, Público, 31 de outubro. Disponível em: https://www.publico.pt/2023/10/31/p3/noticia/campa-preto-sobrevive-memoria-santo-escravo-ditadura-quis-apagar-2068675